Que a culinária move paixões, isso todo mundo sabe. E, em se tratando do Brasil, o quinto maior país em território e dono de um dos povos mais receptivos e alegres do mundo (apesar de todas as dificuldades existentes), pode-se falar também que é um país bem servido em relação às típicas comidas que são produzidas por aqui.
O Brasil começou a ser colonizado lá atrás, em 1500, quando os primeiros exploradores portugueses chegaram por aqui com a intenção de explorar o que fosse possível em se tratando de recursos minerais e, também, de mão de obra. De lá para cá, o país foi inundado com uma onda migratória bastante notável. Não se pode esquecer, logicamente, do fato da escravidão, fato este que fez com que o Brasil se tornasse um dos países com o maior tráfico negreiro do mundo, o que contribuiu muito para que o país formasse a sua identidade miscigenada que possuí hoje.
Diversos outros povos, como os italianos, alemães , japoneses entre outros enxergaram no Brasil uma chance de prosperar, já que os seus países (além de outros) estavam em uma crise acontecida pelas sucessivas guerras. Esse êxodo que aconteceu até o país criou diversas identidades que podem ser sentidas nas mais variadas regiões brasileiras. A sul, por exemplo, é considerada por muitos como a “Colônia Europeia”, pela grande influência da cultura do velho continente por ali, principalmente por parte dos alemães.
A Culinária Brasileira – Uma Verdadeira Diversidade
Toda essa grande massa de pessoas que vieram dos diversos continentes do planeta para o Brasil, como já dito anteriormente, ajudou o país a construir uma grande variedade cultura, sendo que essas diferenças podem ser notadas em todos os quatro cantos do país. E, quando se fala em marcas culturais, abrange todos os tópicos: desde a arte até a culinária.
Deus abençoou a terra brasileira ao poder fazer com que os brasileiros tivessem várias opções de alimentos à sua mesa – por conta de sua terra fértil- bem como, também, pelas inúmeras combinações que deixam a hora do almoço mais feliz. Mas, entre tantas delícias existentes das cinco regiões brasileiras, qual será que é o prato que consegue definir toda a essência do Brasil?
A Feijoada
Em países europeus, quando se fala no Brasil, muitos já pensam na feijoada como um elemento típico do país. Esse é um prato que, definitivamente, todo brasileiro aprecia e não deixa de provar seja qual for a ocasião.
A história do prato mais brasileiro que existe é bastante comovente e, ao mesmo tempo, revoltante. Conta-se que, durante a escravidão, que perdurou por aqui durante mais de 300 anos, os escravos não tinham muitas opções para sua alimentação: restava apenas feijão, que era plantado nas roças de subsistência deles próprios, bem como, também, restos de carne que não eram aproveitados pelos senhores da casa grande. Dessa forma, eles misturavam esses pedaços de carne junto com o feijão – restos esses que eram, basicamente, orelha e joelho de porco – acabando por criar uma refeição que passaria a ser conhecida como “comida de negro”, com tom pejorativo típico daquela época das trevas.
Feijoada
Com o passar do tempo, a receita de feijoada foi ficando cada vez mais popular, não somente entre os escravos, mas também entre os brancos, nos quais passaram a admirar cada vez mais aquele tipo de comida. Isso favoreceu que a receita fosse sendo adaptada e recebendo cortes mais nobres de carnes, o que a fez ficar popular no país todo.
Mesmo sendo um alimento com um sabor incontestável, muitos ainda tinham muito preconceito com o prato, tanto pela sua origem quanto pela sua aparência, já que, como era feito com feijão preto e as carnes eram cozidas juntamente com ele, acabavam adquirindo uma coloração escura, o que alimentava ainda mais o preconceito racial dos brancos contra os negros. Muitos comiam escondido o prato dos demais, por medo de julgamentos por conta da sua atitude, o que evidencia que a ignorância humana, realmente, atravessou gerações (e infelizmente atravessa a geração atual).
Isso pôde ser visto de forma artística na novela “Xica da Silva”, que foi produzida pela extinta TV Manchete em 1996. Xica, na pele da atriz Thais Araújo, serve, em um capítulo, um grande jantar à alta sociedade da época, na qual o prato principal é feijoada. Muita gente que estava lá se assustou com a apresentação mas não deixou de provar a iguaria (que estava contendo pedaços do corpo de um informante da rival de Xica). Algumas vezes, os personagens chegavam a dizer que a aparência “escura” do alimento causavam-lhe náuseas.
Receita de Feijoada
Como um clássico da cozinha brasileira, a feijoada continua conquistando adeptos (inclusive entre os vegetarianos e os veganos). Para poder fazer uma receita de feijoada tradicional, você vai precisar de:
- Uma orelha suína;
- Um rabo suíno;
- 300g de carne-seca (que já esteja cortada em pedaços)
- 300g de lombo suíno (que já esteja cortado em pedaços)
- 300g de costelinha suína;
- Meio quilo de feijão preto;
- Duas colheres de sopa de óleo;
- Duas linguiças do tipo calabresa cortada em fatias;
- Uma linguiça do tipo paio cortada em fatias;
- 350g de bacon cortado em cubos;
- Dois dentes de alho picados;
- Três folhas de louro;
- Sal e molho de pimenta à gosto.
Feijoada na Panela
Depois de juntar todos esses ingredientes, é hora de colocar o rabo, a orelha e a carne seca em uma tigela com água, fazendo com que a água cubra toda a carne e que esta seja trocada pelo menos seis vezes em 24 horas. Depois disso, deixe a água escorrer, cozinhe por aproximadamente por trinta minutos (em uma panela com água) e, logo em seguida, deixe escorrer. Reserve.
Pegue uma panela de pressão e junte o feijão, a carne seca, o rabo, a orelha, a costelinha, o lombo, o louro e, cobrindo com água, deixe que cozinhe por até 20 minutos, sem tampar a panela, em fogo bem baixo.
Enquanto isso, pegue outra panela, coloque o óleo e frite a calabresa, o bacon, o paio e os dentes de alho até que dourem.
Depois disso, pegue a panela com o feijão e volte-a ao fogo. Tempere com o sal e o molho de pimenta, cozinhando até que todos os ingredientes fiquem macios, mas sem desmanchar. Bom apetite!
