Como Surgiu a Feijoada Na Culinária Brasileira?

Que a culinária é uma das principais ciências humanas, isso ninguém tem como contestar. Isso é dito porque não há uma pessoa só nesse planeta que não goste de comer. E, o mais importante: comer bem. Infelizmente, muita gente não têm um tempo hábil para poder realizar as suas refeições de uma maneira mais adequada, o que faz com que uma alimentação não muito saudável seja feita no lugar desta.

E os reflexos desses maus hábitos alimentares são mais do que nítidos: muitas pessoas apresentam estar acima do peso, por causa desse tipo de consumo irresponsável. Os Estados Unidos, por exemplo, é o país com o maior índice de pessoas acima do peso. E isso se dá, basicamente, pelos baixos preços cobrados pelos chamados “fast-foods” que são, em média, muito mais baratos do que as comidas mais saudáveis. E, como o tempo é dinheiro, muita gente não se dá conta da necessidade de se fazer uma alimentação correta.

Porém, existem dias em que podemos dar essa “escapadinha” da dieta, ingerindo alimentos um pouco mais caloríficos, como é o caso de uma boa e velha feijoada. Mas, você conhece a história a fundo desse que é um dos pratos mais brasileiros existentes no cardápio? Veja aqui um pouco mais sobre essa iguaria.

A Feijoada: História (A Mais Difundida)

A feijoada se caracteriza como um prato típico do Brasil, sendo considerada por muitas pessoas como o prato que define o brasileiro. Ele consiste no feijão de cor preta, o famoso “feijão preto”, com a adição de diversos tipos de corte de carne (principalmente suína), como costelinha, orelha, joelho além de linguiça do tipo paio e calabresa, além do famoso louro, um tempero que é o responsável por dar aquele “gostinho” de feijoada.

Ela costuma ser servida em épocas onde o frio esteja dominando, ou seja: o inverno, por exemplo, é um ótimo período onde a feijoada pode ser servida, pois é um prato quente, que não combina com o verão (ou, pode até combinar, mas haja coragem de comer algo quente em temperaturas ambientais elevadas).

A história da feijoada remonta a história da exploração portuguesa no território Brasileiro, que começou durante a idade média e perdurou até o século XIX.  Durante esse nefasto período da colonização brasileira, uma das coisas que mais marcou esse período foi, sem dúvida, o intenso tráfico negreiro com a intenção de que essas pessoas, provindas da África, servissem como escravos nas lavouras e outros empreendimentos levados a cabo pelos Europeus por aqui.

E essa história de exploração não foi somente um episódio isolado: foi um projeto que durou quase 400 anos para poder ser revertido. Ou seja, não dá pra dimensionar o estrago que isso causou na relação humana entre as pessoas “brasileiras” e as europeias que aqui exploravam. Esses sinais são sentidos até hoje, com diversos casos de racismo sendo registrados em vários locais do Brasil. E isso é uma coisa até meio ilógica de se ver: o país tem, em sua grande maioria, pessoas pardas e negras.

A Escravidão: Um Triste Período

Quem conhece os horrores da escravidão no nosso país vai saber que esse é um dos períodos mais tristes de nossa história (e, infelizmente, calhou de ser grande parte dele). O que os negros sofriam por conta da escravidão não pode ser nem dimensionado, já que muitos deles pagavam com a vida em caso de algum descumprimento de ordem. As condições de sobrevivência também eram péssimas, condenando muitos a terem uma expectativa de vida muito pequena.

Em relação a sua alimentação, o que era ofertado aos escravos era, justamente, o que os senhores brancos não queriam comer mais: ou seja, os restos. Em algumas fazendas, como uma “benevolência”, os escravos tinham direito a manter uma roça de subsistência, para o plantio de diversos tipos de tubérculos e cereais, como mandioca e feijão.

Feijoada no Prato Com Arroz e Laranja

Feijoada no Prato Com Arroz e Laranja

Por restos que eram dados para os escravos, o que principalmente era entregue eram partes consideradas “não nobres” de corte de carne, como joelho, orelha e rabo de porco. Os escravos, então, aproveitavam essas partes e cozinhavam juntamente com o feijão, fazendo um prato que conseguia dar “forças” para as labutas diárias e ainda era nutritivo. Logo, essa receita foi sendo compartilhada entre os escravos, que foi ganhando novos ingredientes e, a cada dia mais, sendo mais aperfeiçoada.

Outra Versão Para a Feijoada

Embora a tese de que os escravos tenham criado de fato a feijoada pra sua própria alimentação, pesquisadores indicam o contrário: essa tradição já vem de milênios, nas quais ela já apareceu em diversos povoados espalhados pelo mundo, principalmente em países da Europa e do Oriente Médio. Muitos pratos são considerados como percursores da feijoada, principalmente variações de cozidos que eram feitos na França e em outros lugares da Europa.

Porém, a feijoada tem todos os traços brasileiros justamente por conta do que é utilizado para que ela seja feita: o feijão preto é totalmente originado na América do Sul, além da  mandioca na qual é extraída a farinha, sendo que tanto a mandioca e o feijão era cultivados relativamente perto, tanto em roças de subsistência quanto em quintais de classes mais populares.

O que gerou polêmica a respeito da autoria da feijoada era justamente que a grande maioria dos africanos escravizados era adepta do Islamismo. Dessa maneira, como é que eles poderiam inventar tal prato utilizando esse tipo de carne se a religião veta esse consumo?

Diante disto, diversos historiadores brasileiros – como é o caso de Carlos Alberto Dória – acreditam que a feijoada moderna como a conhecemos hoje só veio a surgir durante o século XIX, na qual o prato, que consistia em feijão preto, carne de porco, hortaliças e verduras eram servidos somente em restaurantes onde a elite tinha dinheiro suficiente para poder comer.

Carlos Alberto Dória

Carlos Alberto Dória

Porém, a propagação da feijoada como um prato tradicional brasileiro, oriundo de uma história complexa como a dos escravos era uma tentativa modernista de tentar criar um prato que pudesse descrever um pouco mais sobre a história e a identidade brasileira, como uma forma de as pessoas terem algo que é de si para se orgulhar.

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